domingo, 30 de novembro de 2008

A ARTE DE SOBREVIVER ANUMA ENXURRADA DE MENTIRAS E DE EQUIVOCOS

A arte de sobreviver numa enxurrada de mentiras e de equívocos
Revista Ultimato, Ano XLI, n° 311 Mar/Abr 2008


Mentira é uma coisa e equívoco é outra. Ambos causam muito estrago e afastam muita gente da fé. Escreve-se mais sobre mentira do que sobre equívoco. Sob o ponto de vista ético, a mentira é mais grave do que o equívoco.

Os guardas do túmulo de Jesus não se equivocaram quando espalharam a notícia de que o túmulo estava vazio porque os seus discípulos haviam furtado o corpo dele durante a noite de sexta para sábado. Os chefes dos sacerdotes deram-lhes uma grande soma de dinheiro para pregarem essa mentira, que ainda era divulgada 50 anos após a ressurreição do Senhor, época em que o Evangelho de Mateus foi escrito, na década de 80 ou 90 do primeiro século da era cristã (Mt 28.11-15).

Apesar dos prodígios da mentira (2Ts 2.9), é preciso tomar igual cuidado com os equívocos, eticamente mais inocentes. Todos têm conhecimento dos muitos equívocos da ciência, desde quando se dizia que a Terra era o centro do universo. Em todas as áreas da pesquisa científica têm havido erros crassos: na astronomia, na biologia, na nutrição, na história etc. Outro dia, o filósofo brasileiro Leandro Konder escreveu que “nenhuma teoria — nem mesmo a que venha a ser considerada a melhor delas — pode, por si só, evitar que erremos. Cada erro, empiricamente, poderia ser evitado. Porém, o fato de errarmos é uma experiência universal e inevitável”. Mas a melhor contribuição de Konder é a enfática declaração de que “a história da filosofia está cheia de erros cometidos por grandes filósofos. Os pensadores disseram e fizeram muitas tolices. A começar pelos gregos” (“Jornal do Brasil”, 16/06/07, p. 6).

Não se pode esconder o fato de que a propaganda religiosa também costuma pregar mentiras e cometer equívocos. Jesus tinha toda a razão quando aconselhou aos discípulos: “Sejam espertos como as cobras e sem maldade como as pombas” (Mt 10.16). Misturar uma coisa com a outra em doses certas não é tarefa fácil, mas a sobrevivência da fé vem daí!

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