quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A "BRANQUINHA" DA DISCÓRDIA

Organizações de militância gay do Paraná querem tirar do mercado o aguardente ‘Cura veado’, por considerar nome ofensivo; em Minas, quem protesta contra a venda de pinga são os evangélicos.

A militância gay do Paraná anda louca da vida. Uma empresa local vende uma cachaça com o rótulo “Cura veado”, cuja imagem mostra um homem desmunhecado, de batom, unhas vermelhas, sobrancelhas arqueadas, cílios postiços e com os cabelos tingidos de rosa. A garrafa da bebida, que segundo seus fabricantes está no mercado há 40 anos, custa em média R$ 10 e pode ser comprada até pela internet. Mas associações de defesa dos interesses dos homossexuais se articulam para retirar a “branquinha” das prateleiras – ou, pelo menos, mudar sua imagem. A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) enviou um ofício aos responsáveis pela fabricação e comercialização do produto, pedindo que ela deixe de usar o rótulo com as mensagens que considera “ofensivas”. “Consideramos que [a cachaça] contribui para o preconceito e a discriminação, pois transmite uma idéia errônea da realidade homossexual, além de fazer deste cidadão objeto de riso”, diz a mensagem da entidade. Além disso, os representantes do movimento dizem que o rótulo passa a idéia de que a homossexualidade é uma doença, já que seria passível de cura.

Aguardantes produzidos em pequenas destilarias ou em sistema artesanal costumam trazer nomes jocosos. A maioria deles é impublicável, mas geralmente fazem alusão a questões comportamentais que envolvem a sexualidade – caso da “Amansa corno” ou da “Levanta véio”, por exemplo. O empresário Luimar Szczepanski, dono das lojas Magic Center, que vendem a “Cura veado”, diz que não tem intenção de fazer chacota com quem quer que seja, mas que não pode ir contra a força da cultura popular. “O que posso fazer se os homossexuais se sentiram ofendidos?”, desconversa. Segundo o comerciante, esse tipo de produto é muito procurado por quem quer pregar uma peça em algum amigo. Já em Minas Gerais, tradicional fabricante de cachaça artesanal, o problema é com outro segmento da sociedade. Recentemente, evangélicos de algumas cidades do interior mineiro ensaiaram um boicote a mercados e lojas que vendem aguardante de cana, sob a justificativa de que a bebida pode provocar a ruína e a destruição das famílias.

Nenhum comentário: